David Drew Zing
Retratos Encantados de uma Possibilidade Perdida
Vendo essas imagens criadas pelo olhar de David Drew (idade incerta e negada como uma preciosidade, mas, nele, claro que vida não cabe em medidas de vida ) , a primeira impressão que me ocorre é que elas são os retratos de possibilidade perdida. Como no poema de Bandeira, elas representam uma vida que poderia ter sido e que não foi. Melhor dizendo: de um país que poderia ter sido que ... quase foi.
Talvez esse hipotético só tenha existido na refração de uma câmera manejada pela alma inquiridora de um coração solitário e estrangeiro, ou estrangeiro e solitário; difícil saber o que vem antes em se tratando de Uncle Dave. Um aventureiro que na vida poderia ter sido ainda um velejador sem yacht club ou um playboy dirigindo Thunderbird no Molecon de Havana. Mas, não se saberá jamais por qual dos fios que movem a nossa existência de marionetes, ele preferiu ser aquele menino velho "lost in Paradise”. São Paulo numa dessas pequenas vilas que resguardam a intimidade provinciana da metrópole inumana.
Por meio do exercício obstinado de uma paixão por essa multiplicidade complexa que se chama “um país”, ele tentou dar existência para sempre a uma graça , uma vivacidade, uma elegância, um charme particularíssimo de certos personagens do pais chamado Brasil.
Como se o voyeur profissional detivesse o dom de dar vida eterna aquilo que, na verdade, só consegue espiar com um olho só. Uncle Dave não se interessou pelo Brasil da mesma forma que outros retratadores estrangeiros: ele se dedicou mais aos personagens e menos a visão da paisagem paradisíaca e aos retratos da miséria exótica.
É como se, ao tentar flagrar a alma privada a alma privada de grandes brasileiros como Pixinguinha, Tom Jobim, João Gilberto, Pelé. Leila Diniz e dos artistas Chico Caetano e Gil enquanto jovens, ele retratasse de alma coletiva do brasileiro ou da brasilidade. Não o país real, mas o país o de um de seus melhores filhos, o paí que talvez David Zingg tenha sonhado (ou apenas vislumbrado, mas esse vislumbre ficara para sempre impresso em suas fotografias como testemunho daquilo que Walter Benjamin de “ o inconsciente ótico”.
Mas, por favor, não se prenda a apenas isso, pois circunscrever a a contribuição de David ao Brasil apenas ao âmbito da fotografia seria de uma indelicadeza imperdoável. O que ele mesmo revelar para os brasileiros uma alma escondida otimista, feliz, lírica, honesta, calorosa, generosa, confiante, educada, solidária ... Quem diria que é o nosso mesmo país?
Matinas Suzuki Jr. Jornalista – Maio 1999