Lewis Hine
LEWIS HINE E A QUESTÃO DO TRABALHO INFANTIL
“O trabalho que Hine fez para a reforma da lei sobre o trabalho infantil
foi o fundamental e mais importante que todos os outros na questão de chamar a atenção do povo americano.” Owen Lovejoy
Como professor visitante na Universidade de Harvard, em 2002 e 2003, tive acesso e pude pesquisar, no Arquivo Nacional Americano, as imagens de Lewis Wickes Hine (1874-1940), que é uma das mais importantes referências na fotografia documental. Sua imagem é engajada, isto é, assume uma posição política, e reflete sua filosofia. Ele diz: “os assuntos que os fotógrafos desenvolvem são mais importantes que o fotógrafo”.
As imagens de crianças trabalhando, produzidas entre 1908 e 1918, são consideradas o seu mais influente trabalho e um marco na história da fotografia. Ele também deixou sua marca documentando as difíceis condições dos imigrantes que chegavam a Ellis Island, Nova York (1905 e 1926), os trabalhadores na construção do Empire State Building (1930 e 1931). publicados no livro Men at Work, e a Cruz Vermelha Americana durante a primeira guerra mundial, fotografando refugiados na Europa. De forma geral suas imagens, feitas com uma câmera Graflex 5x7” e com lente grande angular, eram caracterizadas pela acusação moral contra as condições de moradia e trabalho.
Lewis Hine estudou sociologia e educação na Universidade de Columbia e na Univerisdade de Nova York, respectivamente, e tornou-se professor da Ethical Culture School, em Nova York. Foi atuando como professor que descobriu a câmera fotográfica como um poderoso meio de documentar a injustiça e fomentar a reforma social.
Com a finalidade de provocar forte impacto na sociedade americana, Hine utilizou técnicas empregadas na publicidade. Trabalhou com imagens e textos em painéis e cartazes produzidos para as exposições. Ele considerava que as legendas eram um meio importante para expressar suas preocupações sociais e ajudar na sensibilização da opinião pública.
“Há trabalhos que beneficiam crianças e há trabalhos que trazem
benefícios apenas aos empregadores. O objetivo de empregar crianças
não é treiná-las, mas tirar altos lucros de seu trabalho.” Lewis Hine
No início do século 20, a rápida industrialização, a crescente demanda por mão-de-obra e a falta de regulamentação trabalhista arrastaram as crianças e adolescentes para ao trabalho. Em 1910, são mais de dois milhões abaixo de dezesseis anos - somente nos Estados Unidos! Muitos trabalhavam doze horas ou mais por dia. Apesar de ganharem bem menos que os adultos, eles ajudavam nas contas mensais da família e muitas vezes trabalhavam junto com os pais. Eram impedidas de freqüentar a escola, sofriam acidentes e ficavam expostas a doenças.
A partir de 1908, a Comissão Nacional Contra o Trabalho Infantil contratou Hine para o trabalho de documentação em fábricas, agricultura e minas. Quando era barrado na porta do local a ser fotografado, ele usava vários truques para entrar. Em uma ocasião, apresentou-se como vendedor de seguros e em outra, de cartões postais. Disse também ser fotógrafo industrial, mas seu truque de maior sucesso era apresentar-se como vendedor de bíblias. Nos casos em que nada disso funcionava, ele esperava as crianças saírem do local do trabalho para tomar seus retratos. Este projeto resultou em dois livros: Child Labour in the Carolinas e Day Laborers Before Their Time. A campanha com as fotografias de Hine forçou o governo federal americano a legislar sobre o trabalho infantil.
Hine sempre foi um educador. “Eu queria mostrar coisas que tinham que ser corrigidas”, dizia. Ele acreditava que se as pessoas percebessem, através das fotografias, claras evidências do que estava acontecendo, elas poderiam mudar a situação .
Como professor da Faculdade Senac de Comunicação e Artes, usar Lewis Hine como referência para os alunos do grupo de responsabilidade social produzirem material sobre o trabalho infantil, provou que suas imagens, produzidas há quase um século continuam tendo forte influência na fotografia documental.
Olhando as imagens produzidas pelo fotógrafo do ponto de vista interpretativo, percebemos que sua força não está na preocupação em mostrar sangue ou violência, mas sim no silêncio que incomoda muito mais do que a dor explícita. Às vezes as crianças parecem que vão sorrir para a câmera, causando um efeito mais profundo e repugnante. A mensagem delas é clara. Por que não estamos na escola? Por que não estamos brincando? Por que não estamos sorrindo?
As fotografias de Hine nos lembram que embora tenhamos avançado nas conquistas sociais, as crianças ainda sofrem com esta e outras questões. Acredito que a fotografia deve continuar seu papel de linha de frente para uma sociedade mais solidária e democrática, onde o bem-estar um dia possa ser da maioria.